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Rusgas

Armênia e Azerbaijão não podiam e não caíram no mesmo grupo de apuramento ao Mundial FIFA 2014. Também evitou-se de que Geórgia e Rússia se enfrentassem. Motivo: guerras e rivalidades históricas.

A Geórgia recentemente entrou em guerra com a Rússia. Armênios e Azeris são rivais há séculos. Por outro lado, Croácia e Sérvia vão se enfrentar. Há 20 anos, em jogo pelo campeonato da antiga Iugoslávia (à altura em processo de desintegração), torcedores do Estrela Vermelha (de Belgrado, que representava os sérvios) e do Dínamo Zagreb (clube da atual capital croata) se enfrentaram nas ruas, em episódio que ruiu a modalidade daquele antigo País. Depois disso, o futebolista croata e destaque do Estrela Vermelha, Robert Prosinecki, alegou que não tinha mais condições de atuar pelo clube: era um croata em meio a uma instituição cujos torcedores representavam o nacionalismo sérvio, que era contra a sua nacionalidade.

O mesmo aconteceu no basquetebol. No mundial de 1990, na Argentina, a Iugoslávia era a campeã, após bater os soviéticos na final. Um torcedor invade a quadra com a bandeira croata, que àquela época pleiteava a independência. Vlade Divac, sérvio e jogador daquela seleção, agarra o torcedor, tira a bandeira das mãos dele e a joga ao chão. Drazen Petrovic, croata, companheiro de seleção e amigo de Divac, vê a cena. Depois deste fato, Divac e Petrovic não se falaram mais. Petrovic morreria em um acidente de carro em 1993. Em 1992 a Croácia conquistava a independência.

No futebol, em 2007 a partida Azerbaijão-Armênia, pelas eliminatórias à EURO’2008, foi suspensa por motivos diplomáticos. No entanto, nem tudo são rusgas: o Rugby conseguiu unir os também históricos desafetos quirguizes e cazaques, em jogo válido pelo apuramento ao Mundial 2011, na Nova Zelândia.

Quirguistão-Uzbequistão, em 2008. Fonte: IRB

Quirguistão-Uzbequistão, em 2008. Fonte: IRB

O esporte é sim instrumento para a paz, ao longo prazo, utilizado como instrumento formador e educador. Na alta competição, pensar que interrompe guerras e aproxima alguns Países, de fato, improvável. Estados Unidos e Irã não reataram relações diplomáticas depois da Copa do Mundo FIFA 1998. Nem a Argentina com a Inglaterra, após o Mundial FIFA de 1986*. Muito pelo contrário, acirrou a rivalidade. Contendas históricas não são cegas ao esporte. Toda nação possui a sua história. Se a nação está envolvida, está também envolvida a história. E história não se esquece.

* – apenas reataram as relações em 1990.

Mercotur

Buenos Aires, cidade da final da Copa América, no último domingo, estava cheia de turistas. Pois bem, até aí nenhuma novidade. Mas que os turistas eram em sua maioria uruguaios e paraguaios, sim, novidade. Os dois Países fizeram a final do torneio. O Paraguai não vencia há anos e o Uruguai há algum tempo. Obviamente a proximidade dos orientais à Argentina favoreceu o deslocamento. No entanto, para além disso, é necessário ter atenção ao turismo gerado pelos eventos esportivos.

Diáspora Uruguaia

Diáspora Uruguaia

A capital argentina já não tinha mais vagas nos hotéis. Quase não havia táxis vazios, o trânsito estava sempre carregado as 24 horas do dia. Não chegou a ser caótico, mas serve de alerta para outras cidades ou Países-sede. Buenos Aires é conhecida pela extensa rede de hotéis, grande frota de táxis e metrô abrangente, mais que muitas grandes cidades brasileiras. Se isso aconteceu por lá, com Uruguai e Paraguai, que juntos não somam 10 milhões de habitantes, o que pensar em um Mundial FIFA no Brasil, com Argentina e Alemanha na final?

Obelisco da 9 de Julho tomada pelos da "Banda Oriental"

Obelisco da 9 de Julho tomado pelos da "Banda Oriental"

Fora isso, o papel da Copa América deve ir além do desportivo, comercial, mas sim político e econômico. Ficou claro que o torneio favorece o turismo e o consumo, mas a Copa América deve servir como fator de integração da América do Sul/América Latina. A fusão com a Copa Ouro, da CONCACAF (Confederação das Américas do Norte, Central e Caribe), será uma maneira de – além de tornar o evento mais lucrativo – aproximar os povos das 3 Américas. Com o tempo, acabaria por torná-lo um espaço comum.

Em tempo: ganhou o Uruguai porque não possui jogadores com cabelo moicano ou chuteiras coloridas. Concordo com David Coimbra. Já imaginou o Diego Perez de moicano e brinco? Que desaforo.

250º

Este post é o nº 250 deste blog. Ao longo destes quase 4 anos tratamos de inúmeros temas do mundo do esporte. Compartilhamos bons exemplos e indignações, curiosidades e conhecimentos.

O título desta página diz muita coisa e, recentemente, o Departamento de Estado dos EUA implementou a “Soccer Diplomacy”, em que ex-atletas estadunidenses da bola farão clínicas e palestras pelo mundo, a fim – obviamente – de promover o País. E pensar que será feito isso em uma modalidade em que não são os protagonistas. Na América do Sul, o futebol Brasileiro e a Copa Santander Libertadores deram mais uma demonstração de  mediocridade ao final da grande decisão, no estádio do Pacaembu.

O Mundial FIFA 2014 não resolverá nenhum dos problemas da gestão do esporte no Brasil.

Aliás, qual será o “legado” deste evento? “Estádios bonitos”? O povo não tem que pagar por “estádios bonitos”, o povo não precisa de “estádios bonitos”. A instituição esportiva sim precisa de “estádios bonitos” – e precisa fazê-los com recursos próprios -, para que o povo, ao perceber que terá conforto e segurança nestes “estádios bonitos”, os frequente. Como consequência, o poder público financia portanto uma infra-estrutura de acesso a esses “estádios bonitos”.

Conversas que vocês devem estar cansados de ler e ouvir. Enquanto isso, outros esportes crescem porque não admitem meias-palavras e pouca ação.

Aliás, o Brasil não pode aceitar meias-palavras e pouca – nenhuma – ação.

Liozada Racing

A Liozada Racing faz a sua estreia neste domingo, na Granja Viana, em São Paulo, pelo campeonato “Os Navalhas da Olympikus”. Ontem na Shed, em uma conferência de imprensa, o CEO da Liozada Racing, Raphael “Monga” Moggioni, apresentou a equipe e houve a divulgação do carro, o “BREJA 01”, que será pilotado por Rodrigo Alonço e Virgílio Neto. Moggioni está contente: “investimos milhões. Esperamos retorno. Estamos pressionando os pilotos por resultados. O 2º lugar é inadmissível”, disse o CEO, conhecido mundialmente no automobilismo pela sua tolerância.

Rodrigo Alonço também é piloto conhecido mundialmente e suas palavras refletem bem os objetivos da equipe: “vamos tentar os 3 pontos para subir na tabela e fazer jus ao trabalho do nosso professor. A equipe está bem e o grupo está unido. Na pista somos todos homens, 11 contra 11. Esperamos fazer uma boa prova.”

Compareçam: Kartódromo Internacional da Granja Viana, domingo (20). 1ª bateria a partir das 19h30.

O Valor de 90 Minutos

Quanto valem 90 minutos para um clube? Sem dúvida que depende do clube, mas pergunto isso porque o CR Flamengo conseguiu para o jogo de estreia de Ronaldinho Gaúcho – apenas para a estreia -, um patrocínio “pontual” de R$900 mil reais.

Do parágrafo acima, algumas coisas: 1) o CR Flamengo precisa urgentemente destes recursos; 2) por outro lado, perderam uma chance para valorizarem-se; 3) o historial nos leva a pensar que alguém ganha com isso. Vamos levar em consideração os pontos 1 e 2. Não tenho nada contra os patrocínios pontuaise exclusivos para um jogo. De acordo com os planos do clube, eles precisam destes recursos de maneira urgente. Por outro lado, poderiam trabalhar com política de patrocínios em longo prazo e valorizar a marca e a camisa da instituição. Só que isso não se daria apenas dentro do campo, com resultados. É preciso também estar “limpo” de tudo o que acontece fora dele também e que é associado ao seu nome. Em resumo, é preciso credibilidade para agregar valor à marca patrocinadora. Que é um clube grande e vencedor, todos já sabemos e boa parte está cansada de saber.

Infelizmente os patrocínios pontuais vão durar por muito tempo no País, enquanto não houver planejamento em longo prazo nas organizações esportivas e empresas dispostas a fazerem esse tipo de colaboração.

Antijogo

Racismo no esporte existe, infelizmente. Os exemplos são vários. Racismo no esporte e na América do Sul? Existe, sim senhor! Escrevo um “infelizmente” elevado à 2ª, 3ª, 4ª potência. É constrangedor e decepcionante, afinal trata-se de um continente que reúne várias etnias de índios, negros e brancos.

A última aconteceu no Sul-Americano Sub20 no Peru. Diego Maurício, jogador do Brasil, foi hostilizado com sons feitos pelos torcedores e que lembravam um macaco. Ora, levando em consideração que a maior parte do público daquele jogo era peruano, quem é o maior jogador da história daquele País? Teófilo Cubillas, negro. No mínimo contraditório. Os exemplos históricos não param por aí. As imprensas argentina e uruguaia costumavam debochar do Brasil com humor negro. Alguma parte da imprensa brasileira se atualmente se refere ao Paraguai com falta de consideração.

Foram (são) índios, negros e brancos que construíram e formam este continente. Se o esporte Sul-Americano é bem sucedido, muito se deve a essa mistura de raças, como dizia Gilberto Freyre no Brasil e como é preconizado na Argentina com o estilo “criollo”. Este tipo de antijogo, no século XXI, em nossa própria casa, não.

Palavras que Valem

Um dos trabalhos de conclusão de curso dos meus alunos é sobre o “media training”, que consiste em a pessoa ser treinada e preparada para poder se comportar diante da imprensa e perante um público que o acompanhará. Deve ter cuidados com a postura, com as palavras, com o traje e com o olhar. Deve estar pronto para quaisquer perguntas e responder o suficiente para sanar a dúvida do entrevistador. Sem rodeios, sem vícios de linguagem, objetivo.

Atualmente o media training é muito comum no meio esportivo, afinal o esporte está cada vez mais profissional e movimenta muito dinheiro. Os atletas e dirigentes representam uma instituição e em função disso conferirão, através das suas condutas e das suas palavras, a imagem desta instituição. Quanto mais ela se preserva e prepara os seus profissionais para as situações de exposição pública, melhor a sua marca fica conhecida no mercado. Entretanto se o atleta dá entrevistas de brinco, chinelo e camiseta regata – como acontece em muitos casos -, a última imagem que o público terá da instituição será o de profissionalismo.

Dessa maneira percebe-se o porquê de clubes estrangeiros de futebol preferirem muito mais argentinos a brasileiros. Profissionalismo. Com raríssimas exceções (Tevez), o argentino sabe falar muito melhor que o brasileiro. É pouco comum vermos argentinos, uruguaios e paraguaios perderem-se em festas e bebidas, ao contrário dos brasileiros. Enquanto em muitos casos os demais Sul-Americanos esforçam-se a falar a língua do País local, o brasileiro tem tradutor e outros serviços, “cheio de quereres”, como diria meu amigo Luizão. Recentemente via um programa de entrevistas na Fox Sports Argentina, bem descontraído. O entrevistado no estúdio: um jovem goleiro do All Boys, da 1ª divisão local. All Boys, pessoal, All Boys! Com o merecido respeito, mas alguém que não fanático conhece os All Boys? Ora, eu não sabia distingui-lo (o goleiro) dos apresentadores, tamanha a desenvoltura do atleta. No Brasil isso é bem menos possível.

Não venham com a desculpa sobre a origem socioeconômica do atleta. Lá eles também vêm em sua maioria de condições bem humildes.

É preciso refletir sobre isso, afinal as palavras valem milhões e são capazes de construir a imagem de uma organização.

No entanto eu não queria dizer isso: media training para atletas no Brasil é indicador de subdesenvolvimento. Significa um esforço em preparar o atleta para vendê-lo a um mercado mais rico e que gerará mais rendimentos para a instituição aqui no Brasil, já que não consegue através de outras maneiras.

Outra Arte

A narração esportiva é uma arte. É maneira única de passar para o ouvinte ou telespectador aquilo que se passa em um ambiente esportivo. A partir da narração criamos imagens, visualizamos jogadas, conferimos mais emoção ao esporte. Se não fosse pelos narradores, o cruzado do Éder Jofre não seria o mesmo; faltaria fôlego para a arrancada de Pelé; as vitórias do Senna não teriam graça alguma.

Existem diferenças entre os narradores do rádio e da televisão, obviamente. Entretanto, independente do veículo, eles marcam o nosso cotidiano e muitas vezes pegamo-nos dizendo frases que eles criaram, seja por brincadeira ou não: “Sinistro, muito sinistro” (Januário de Oliveira); “queimou o filme” (Sílvio Luiz); “haja coração” (Galvão Bueno); “tá no filó” (Fernando Sasso); “afundou!” (Álvaro José). Se somos tão apaixonados pelo esporte, a paixão chega até nós através das palavras deles. Amaremos mais, sofreremos mais, a vitória será mais alegre e a derrota, mais dolorida, de acordo com as palavras que eles usarem. Se hoje o esporte preenche parte importante das nossas vidas, muito se deve aos narradores esportivos.

Na infância, acompanhei os da minha cidade, como Mazziero e Mantovanelli, verdadeiros artistas com as palavras. Com o tempo conheci os das rádios de São Paulo, depois ouvi muito a impecável equipe da Itatiaia, de Belo Horizonte; os grandes nomes da Rádio Gaúcha (referência para o Brasil) e em Portugal e na Espanha, percebi que lá é como cá, tanto a narração (“relato” para os Lusitanos), quanto as músicas que marcam as transmissões esportivas (quem acompanha sabe que músicas são, aqueles sinais de emissão).

Um bem-haja a todos os narradores esportivos e a todos aqueles que trabalham nas transmissões! Apesar de não ter citado vários no texto, não me esqueci de ninguém! Não mesmo!

Se o esporte é uma manifestação da arte e o espectador do esporte, é elemento do esporte, logo, o interlocutor (narrador) deve fazer do seu papel, uma arte. Sem eles nada seria o mesmo.

PS: vá em “Anúncios de Graça” e perceba como um narrador pode colocar emoção em um jogo aparentemente ruim.

Especulações

São prato-cheio para a imprensa durante uma pré-temporada. Todos buscam a notícia, as informações mais precisas. O que foi dito, o que não foi dito, o que pensaram e o que não pensaram. O gesto feito e o gesto que deixou de ser feito, além da mínima palavra que muda todo o sentido de um discurso.

A ida de Ronaldinho Gaúcho para o CR Flamengo foi repleta de especulações e polêmicas. E nada melhor que uma polêmica para que os meios de comunicação sejam “consumidos” pelo público – faminto por bola -, como se os mesmos meios tivessem a certeza do que aconteceria. Ora, mais cedo ou mais tarde tudo seria definido. O procurador-irmão do jogador fez gato-e-sapato da imprensa, através de especulações e uma coletiva-circo de imprensa. Ao final ele conseguiu render muito espaço na mídia, em excelentes horários. Prato-cheio também para depois, na hora de buscar patrocinadores para o jogador. Afinal, patrocinador quer retorno de mídia, estatísticas disso, quer números, para viabilizar um patrocínio. O jogador e seu irmão os terão.

De pato pra ganso – não, não é uma tabela entre craques da bola -, não me lembrei de outro piloto de F1 a ser usado como “instrumento para a Revolução” (no caso específico, a Bolivariana) como Pastor Maldonado, venezuelano, que vai correr para a Williams em 2011. É interesse de Chávez nisso, para que o mundo veja a Venezuela com “outros olhos”, que através de uma imagem Maldonado simbolicamente representará. Enfim, apenas mais outra especulação.

Ano de Copa

Antes de começar, um ótimo 2011 a todos vocês – pacientes – leitores!

Para quem pensava que Copa do Mundo ficou em 2010, ledo engano. Em 2011 haverá também e, nada mais, nada menos que o 3º maior evento esportivo do planeta, atrás dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo FIFA. Escrevo da Copa do Mundo de Rugby, nos meses de Setembro e Outubro, na Nova Zelândia.

Além de ser o terceiro maior evento esportivo do mundo, o Rugby é uma das modalidades mais praticadas e imaginar o Brasil fora deste mapa nos leva a refletir o porquê disso. Entretanto, antes de levantarmos estes porquês, os responsáveis pela modalidade aqui no País tem trabalhado bastante para reverter este quadro.

Para terem uma ideia do que é uma Copa do Mundo de Rugby, o evento tem uma das maiores taxas de ocupação dos estádios. Na última edição, em 2007, na França, ela foi de 94%.  Os jogos são transmitidos para mais de 200 Países e o impacto econômico direto está estimado em 800 milhões de Libras Esterlinas. De impactos indiretos são calculados aproximadamente 1 bilhão de Libras. Para além destes dados, é o 3º evento em número de visitantes; ademais é a competição esportiva em que os visitantes tem maior poder de consumo, mais que aqueles que vão aos Jogos Olímpicos e às Copas do Mundo FIFA.

Ainda que poucas, são informações que impressionam, de uma modalidade que vai cada vez mais conquistar o País. Com o tempo vamos nos preparando para o evento, com textos, dados e mais informações.  Vão à seção “Anúncios de Graça” e curtam o promo video sobre a Copa.

Bom ano 2011 a todos, sempre perto das pessoas que você mais gosta.