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Questão de Imagem

Há alguns dias li o comentário de um amigo, que viu pela TV o presidente do IRB (Conselho Internacional de Rúgbi) na tribuna de um estádio. Temia o meu amigo em a IRB tornar-se como a FIFA. Jeróme Valcke, Secretário-Geral da entidade do futebol, disse recentemente sobre a necessidade de mudar a imagem dela, como pode ser visto no ‘de Letra‘, neste blog.

As entidades que regulamentam o esporte são de Direito Privado e por isso elas não possuem alguns compromissos que uma empresa pública possui, como a de publicar os salários de seus colaboradores. No entanto, os esporte são de interesse público e por isso surgem demandas que questionam a transparência e idoneidade das instituições que os administram.

Por outro lado, sem profissionalismo o público não terá acesso a eventos (e também o crescimento das modalidades) tão bem realizados, como são os da FIFA, os da NBA, FIVB (voleibol) e do IRB. Ingenuidade pensar que fazem isso por voluntariedade ou por filantropia. Para haver profissionalismo, é preciso que haja rendimentos financeiros, parte deles direcionada ao pagamento desses profissionais.

Não há nada de ruim de estas entidades procurarem pelo lucro. No entanto, por ser um bem público, é preciso proteger o esporte através de 2 pilares: quem faz o esporte (os atletas) e quem o consome (espectadores e praticantes).

O porquê destes dois pilares trataremos em outro texto.

Para os numerólogos, este texto é o #333.

Divirtam-se com o quiz abaixo:

Renovação

Quando ouvimos, lemos ou falamos a palavra que dá título a este post, logo pensamos em um plantel de alto-rendimento. Como este espaço trata de outros temas relacionados ao esporte, a renovação aqui tratar-se-á de símbolos do esporte.

capQuando este blogueiro ganhou o álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro de futebol de 1991 – eu tinha 9 anos -, disse intrigado ao pai: “Pai, existem 2 Flamengos!”. Meu pai logo tomou o álbum e disse: “Não, este é o Atlético Paranaense”. Eu havia acabado de confundir o distintivo do rubro-negro paranaense com o do “clube mais querido do Brasil”, como vocês podem observar aqui ao lado. Hoje, o escudo da equipe do Paraná mudou e lembra muito mais o Clube Atlético Paranaense do que o Clube de Regatas do Flamengo.

E é esta a função de um símbolo. Representar uma instituição, seus valores, sua história, seu legado e inclusive o Everton0palmarés (através das estrelas). Ele deve ser de fácil lembrança e identificação e quanto mais limpo, em consequência menos visualmente poluído, melhor.

Nesse sentido, Everton, Roma e Paris St-Germain (PSG) repensaram seus escudos. Notem que o nome e o que dá identidade ao clube estão valorizados nas novas versões. No Everton, o nome e a torre. ‘Roma’ ocupou o lugar do ASR (Associazione Sportiva Roma). Quem olhava para o símbolo antigo do clube e não soubesse da história da loba e sequer fazia ideia da sigla abaixo do desenho, também não saberia identificá-lo enquanto entidade do esporte.

psgPara o PSG, a mesma coisa. A cidade de Paris é muito maior que o clube. Vincular-se mais ao nome desse município-alfa é projetar a cidade em nível mundial, o que conecta com os investimentos que têm sido feitos dentro de campo.

asromaNão tão radicais têm sido no Brasil o Cruzeiro, o Flamengo e o Corinthians. A equipe mineira consultou a torcida, que prefere as estrelas da constelação soltas na camisa, e não presas a uma circunferência. A torcida do clube carioca prefere a sigla ‘CRF’ fora do escudo, enquanto que os paulistas optaram por excluir as estrelas do símbolo e valorizar exclusivamente a âncora, o timão e os remos.

Essas mudanças se dão com a intenção de se comunicar melhor com o torcedor/consumidor. E quem não se comunica, se estrumbica!

O Rival

Se não houvesse o outro, não seríamos nós mesmos. Só somos brasileiros, porque existem portugueses, italianos, japoneses e argentinos. Se não fosse o River, o Boca não seria tão grande. Durante a Guerra Fria, se os soviéticos não investissem tanto no esporte, os EUA não seriam potência esportiva. Naquela situação uma vitória nas Olimpíadas simbolicamente significava supremacia ou do socialismo, ou do capitalismo.

Alemanha Ocidental x Alemanha Oriental no Mundial FIFA 1974

Alemanha Ocidental x Alemanha Oriental no Mundial FIFA 1974

Dentre diversos motivos o Corinthians é Corinthians em função da grandeza do Santos, São Paulo e Palmeiras. Isso faz com que queiram ser mais. E vão querer ser mais ainda. O futebol gaúcho é bem-sucedido porque um clube, em certas ocasiões, teve bastante sucesso (Grêmio). O outro não ia querer ficar atrás e correu à frente (Inter). O mesmo não acontece no futebol do Rio nem em Minas Gerais. Nas Alterosas qualquer conquista do Cruzeiro fará a instituição maior que o rival: o Atlético há muito tempo não vence nada. O mesmo passa no Rio de Janeiro. As equipes não ganham muita coisa, portanto não vêem sentido em investir para serem maiores e melhores.

É por isso que o rival tem um papel fundamental na indústria do esporte. Certamente não é o único motivo para a existência e sobrevivência de uma instituição esportiva, no entanto, é um dos fatores que mais impulsionam este universo.

Em tempo: se há o Celtic, é porque existe o Rangers, logo, se há católicos romanos (Celtic) é porque há aqueles que não são (Rangers).

Além de Palavras

#300

Em todos os idiomas, toda palavra possui a sua origem e tem um significado. Quando a pronunciamos, no entanto, o homem é capaz de conferir a ela um significado completamente distinto. Quando se conta um fato, por exemplo. Mais ainda quando se vive este fato. Contar estes fatos, ao vivê-los, é uma arte. Processar milhares de informações que estão a disposição em um determinado momento e, no menor espaço de tempo,  transformar tudo isso em palavras, que devem ser ditas o mais rápido possível, para não perder as outras milhares de informações que vêm a seguir, é para poucos. São magos desta arte.

Comecei a admirá-los quando criança, quando ainda passava na TV Cultura, nos sábados à tarde, o programa ‘Grandes Momentos do Esporte’. Tudo bem, o futebol era mais lento, cadenciado, mas a arte de narrar, a mesma. Me encantava com as narrações do Luiz Noriega, quando depois dos gols, ele repetia: “Esporte também é Cultura” (e é isso mesmo, por isso o considero um visionário):

Mas é esta narração que consegue me deixar feliz e infeliz ao mesmo tempo:

Infeliz porque é um passado que não volta e eu não vivi nada daquilo. Porém, muito mais feliz, por que é o XV! Imaginar esses gols sem os relatos de Noriega não teriam absolutamente a mesma graça.

O narrador esportivo lida com a paixão o tempo todo e está sob constante avaliação de milhões de pessoas pelo mundo. É difícil agradar a todos, saber exatamente todas as informações, acertar todos os detalhes. Não, não se agrada a todos os ouvidos, não se sabe exatamente todas as informações e os detalhes passam desapercebidos quando ele deve prestar atenção a milhares de tantos outros detalhes. Vejam só este video, com Grant Fox, minha referência no rúgbi:

Vasculhei pelo YouTube inúmeras narrações, vários bons exemplos que podia citar aqui. Mas todos eles são muito bons! Esqueçam a equipe para quem eles puxam, esqueçam os erros (todos nós erramos), atentem-se aos fatos. Narrador ruim é aquele que não ama o que faz. E narrador bom, não é bom sozinho. Tem que haver um ótimo comentarista e uma grande equipe em campo e fora dele, responsáveis pelo infarto, ou melhor, emoção que você vai sentir em casa, no carro, onde quer que seja. Afinal, você procura o esporte para fugir da rotina, viver a tensão e o conflito entre opostos. Por isso mesmo que eles, os cronistas, são elementos do esporte. Fiquem com Jorge Perestrelo, de Portugal:

Para eles, um tiro-de-meta é muito mais que uma reposição de bola em jogo; uma falta é um crime; um escanteio contra, uma ameaça bélica; uma defesa a favor, digna da máxima condecoração nacional; um cartão amarelo ou vermelho, conspirações; um gol a favor transforma-se em orgasmo. Orgasmo público! E é o esporte talvez o único meio em que você pode demonstrar publicamente suas emoções, sem ser julgado pela sociedade.

Este texto – que por sinal é o número 300 deste blog – é dedicado a eles, no dia em que me tornei habilitado a desempenhar esta função. Estou longe de ser locutor, me especializei nisso para ajudar na minha atuação como comentarista, para, pelo menos, acompanhá-los mais de perto.

À Mexicana #2

Loja do América à saída do Azteca

Loja do América à saída do Azteca

É impressionante o profissionalismo no esporte mexicano, sobretudo no futebol. Eu tinha uma visão equivocada, de que tudo era uma influência dos EUA, em função proximidade entre os dois países. Tive a oportunidade de conhecer algumas instituições e algumas pessoas ligadas ao esporte no País e elas me mostraram o contrário.

Os clubes são clubes, como no Brasil. Existem algumas franquias, semelhantes ao atual Americana e ao Boa Esporte. Mesmo os clubes, o objetivo é o lucro. Por isso eles trabalham muito bem suas marcas, e transformam-nas em produtos. O América é propriedade do dono da Televisa (canal de TV). O dono da Televisa também tem o Estádio Azteca. Por ter recebido 2 mundiais FIFA e os dois melhores jogadores do mundo terem sido campeões lá (Pelé e Maradona), o lugar se torna referência e essa história faz dele, um produto. Fatores que transformam uma organização esportiva em produto: história, relacionamento com o torcedor, valores e, no caso de um estádio, o aspecto visual.

Túnel de acesso ao campo pelos jogadores do América

Túnel de acesso ao campo pelos jogadores do América

A fim de maiores rendimentos e profissionalismo, a Federação Mexicana não impede que o dono de um meio de comunicação também tenha um clube. Nesses casos, os negócios são bem distintos: clube é clube e canal de TV é canal de TV. Cada um deles tem o seu público-alvo. A TV, por exemplo, não pode ignorar os 35 milhões de torcedores do Chivas Guadalajara, clube rival ao América. Caso contrário, perde uma grande audiência, boa fatia do mercado mexicano.

Entretanto nem todos os clubes possuem donos com grande capacidade de investimento. Nesses casos, é permitido à instituição mudar de cidade ou mesmo encerrar as atividades. Acontece no México uma mistura de um sistema europeu e sul-americano, com o das franquias norte-americanas, juntamente com seu profissionalismo. É bom ver que as instituições esportivas aqui no México (e repito, sobretudo no futebol) trabalham muito com estagiários e possuem plano de carreira para eles.

Exemplo desse profissionalismo no futebol mexicano é o Pachuca. No início dos anos 2000, era apenas um clube pequeno que subia de divisão. Quando isso aconteceu, os dirigentes foram procurados por um canal de TV que oferecia uma pequena quantia de dinheiro para transmitir suas partidas. O presidente do clube, sabendo que não podia se dar ao luxo de barganhar por mais, aceitou. Os jogos do Pachuca seriam transmitidos pela TV e, com isso, o clube podia buscar mais patrocínios, uma vez que haveria maior exposição das suas marcas na televisão. Com isso, aumentaram os patrocínios e os rendimentos do clube, que pôde investir no plantel e torná-lo mais competitivo. Feito isso, os resultados no campo melhoraram, chamando mais atenção da torcida, da mídia e de mais empresas interessadas em investir no clube. Aliado ao profissionalismo de seu quadro organizacional, a instituição criou uma universidade de ciências do esporte e futebol, que abastece o mercado esportivo mexicano.

Um exemplo de País cuja sociedade é muito semelhante com a nossa e a realidade, não muito distinta.

Pena que isso, no México, acontece apenas no futebol e em menor intensidade, no beisebol, mais popular no norte, próximo à fronteira com os EUA. A diferença principal é que os clubes têm proprietários, que estão interessados, além do resultado desportivo, no resultado financeiro. Esses proprietários são movidos pela paixão, certamente, mas mais ainda pelo bolso.

No Brasil, vocês todos sabem, não é bem assim.

T.P.S.T.A.

Estimados pacientes, este texto é uma continuação do que escrevi em 21-09-2008, com o título “T.O.P.S.T.A.R.”.

Há acadêmicos que dizem que um atleta, para ser um topstar deve reunir características que tenham as iniciais com “T” (team), “O” (off-field life), “P” (physical characteristics), “S” (success), “T” (transferability), “A” (age) e “R” (reputation). O siginificado de cada uma dessas características está naquele texto.

Notem que no título deste texto que escrevo, faltam as letras “O” (off-field life) e “R” (reputation). Neste momento, é que falta para o golfista Tiger Woods voltar a ser um topstar. Se ele quiser ser, claro! O acidente de carro, o adultério e o consumo de entorpecentes tiraram essas duas letras dele, os patrocínios e alguns milhões de dólares.

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O golfista estadunidese Tiger Woods

Rein, Kotler e Shields (2008) dizem que a perda de patrocínios, tida como uma punição, pode ser eficaz quando um “garoto-propaganda” de produtos famosos se envolve em situações questionáveis. Talvez por isso ele considere o que ocorreu. Segundo os mesmos autores, nada pode ser mais prejudicial para a imagem do atleta que a divulgação pública de semelhantes transgressões.

Já aconteceu com George Best, com Ronaldo Nazário, com Maradona e Schumacher. Uns souberam dar a volta por cima. Outros não. Resta saber como Tiger vai lidar com isso tudo.

O Gênio do Troféu

Aladdin jogava no Tietê Futebol Clube, time grande do Brasil e do interior paulista: nove títulos paulistas, quatro títulos brasileiros, cinco Libertadores da América e nenhum interclubes. Final do interclubes no Japão: “Tietê x Glasgow Rangers”, da Escócia.

No treino para o jogo da final interclubes, Catinho se contundiu e o técnico, Serê Romana, colocou Aladdin no ataque porque Catinho jogava nessa posição. Cinco minutos antes de começar a decisão interclubes, os jogadores de cada time passam ao lado do troféu, grande e dourado. Mas quando Aladdin passou ao lado do troféu, fez o sinal-da-cruz, prestou atenção no troféu, esfregou-o. Logo da tampa saiu Pelé.

– Pelé? – assustou-se o Aladdin.

– Sim, sou eu mesmo.

– Pelé, quero jogar bem hoje, mostrar tudo o que tenho, mas não sei fazer isso.

– É facil…

– Como?

– É só você ter garra, vontade, determinação e Fé em Deus.

– Farei isso, Pelé.

Pelé saiu do troféu e assistiu o jogo. Ouça o final do jogo com a narração de Sérgio Guedes:

– Léééo avança, driblaaa o quarto zagueiro, cruzooou, a cabeçada, no goleiro, na trave! Aaaaaa bola se encaixa na gaveeeta direita do Estádio Nacional em Tóquio! Tinha que ser na gaveta dos Rangers! Aladdin! Camisa nove! Quarenta e quatro e meio do segundo tempo, um a zero Tietê! Vai apitar o juiz Oscar Rosas e apita! O Tietê é campeão mundial interclubes de futebol!

– Ummmmmmmm! Aladdin só pediu para jogar bem hoje, mas aprendeu! – disse Pelé, nosso gênio

* com este texto este blogueiro ganhou o concurso de redação “Crie um Aladdin Diferente” promovido pelo caderno “Folhinha”, da “Folha de S. Paulo”, em 28 de Agosto de 1993

Para Ser G-“Alguma Coisa”

Está na moda ser “G”, às vezes é bom ser “G”. G-8 para os países mais ricos do planeta; G-4 para quem quer se classificar para a Libertadores; G-77 para os países que se consideram “não-alinhados”; G-Magazine para outros interesses. A Deloitte recentemente divulgou uma lista dos G-20, os 20 maiores clubes de futebol do planeta em termos de rendimentos. Muitos clubes queriam fazer parte desta lista – aliás, está neste blog em “Utilidade Pública” -, outros não deviam fazer parte e outros ainda incrível e incompetentemente não fazem parte.

Desta lista todos os clubes são europeus, na maioria ingleses. Nenhum clube das Américas: nenhum mexicano, nem brasileiro, ou mesmo – um campeão de vendas – o Boca Juniors, de Buenos Aires. Chama a atenção na lista a inclusão de um clube turco, o Fenerbahçe, de Istambul (é com cedilha mesmo).

*temp*

Estádio do Fenerbahçe, em Istambul (fenerbahce.org/pt)

A economia brasileira é a 8ª do mundo, a turca a 15ª. O Fenerbahçe não tem o mesmo número de torcedores que têm Corinthians, Flamengo ou São Paulo. Que tem o Boca, América (México DF) ou Chivas de Guadalajara. A Turquia não tem o mesmo palmarés no futebol que tem a Argentina ou o Brasil. Mesmo assim o “Fener” – como é carinhosamente conhecido pelos torcedores – está lá, figurando entre os G-20 da Deloitte, listagem que a cada ano fica tão importante quanto ganhar um campeonato. É um motivo para aumentar a reputação e credibilidade da organização desportiva, que é um clube.

As receitas dos clubes dependem de 4 variáveis: direitos de transmissão pela TV, transferências de jogadores, bilheteria e comercialização (merchandising, publicidade e patrocínios).

O “Fener” está lá este ano porque no ano passado chegou às quartas-de-final da Liga dos Campeões da Europa, o que rendeu ao clube dezenas de milhões de euros (€) (os benefícios com os direitos de transmissão são altíssimos). No ano passado alguns jogadores do clube de Istambul saíram para jogar em outras ligas europeias e asiáticas, o que rendeu alguns “trocados” ao clube. Entretanto o grande trunfo dos turcos está em adquirir jogadores da América do Sul – neste caso onde o preço do passe é menor devido ao câmbio, o famoso “bom e barato” -, o que torna a equipe mais competitiva e em contrapartida ganha mais mercado consumidor. Quantos brasileiros não passaram a acompanhar e comprar produtos relacionados ao Fenerbahçe depois que Zico, Alex, Edu Dracena e Lugano foram lá treinar e jogar? Eu, inclusive!

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Torcida do “Fener” (fener-fanatix.tr)

Bilheteria: não se vê jogos do Fenerbahçe com as bancadas vazias. Sempre lotadas, estádio seguro, viável e moderno. Alto índice de assistência, mesmo com os ingressos caros. Mas, claro, há um plano de compra antecipada, o popular “sócio-torcedor”. Mesmo assim, não é barato. O “Fener” tem um excelente plantel, com nomes que se destacam. Mantê-lo é caro. Certamente os torcedores sabem disso. Não se distribuem ingressos a determinados torcedores. Os responsáveis pelo clube seguem a seguinte equação:

Assento Preenchido = renda do ingresso + renda do consumo no estádio + renda com o merchandising

ou

Assento Preenchido + Vitória da Equipe = renda do ingresso + (renda do consumo no estádio)² + (renda com o merchandising)²

em longo prazo:

Assento Preenchido + Vitória da Equipe = (renda do ingresso)² + (renda do consumo no estádio)² + (renda com o merchandising)² + aumento dos direitos de transmissão pela TV + patrocínios (!!!)

Consequência disso: mais dinheiro para investir no plantel e aumentar a competitividade da equipe; para aumentar o conforto do estádio; para aproximar mais os torcedores ao clube. Em suma, satisfazer a torcida.

Quanto à comercialização, o “Fener” leva muito a sério o licenciamento dos seus produtos. Claro que os seus torcedores são conhecidos por serem muito fanáticos. Se fanatismo significasse renda, Boca Juniors e Corinthians seriam os clubes mais ricos do mundo. No Fenerbahçe existe planejamento de como vender e oferecer o clube para os torcedores, mesmo que o seu número não seja alto. O site oficial é oferecido em vários idiomas. Os produtos oficiais são caros, certamente, e por isso mesmo que os turcos têm uma marca própria de artigos oficiais licenciados que permite um preço mais em conta. E a gama de produtos é vasta. O adepto, quando compra, sabe que o dinheiro é revertido para o “Fener”. Isso sim é fidelidade e lealdade ao clube.

Enquanto isso, no Brasil, falta planejamento e profissionalismo dos clubes, salvo alguns. Câmbio desfavorável frente ao euro (€) não é desculpa para terem que vender logo cedo os craques para a Europa, Oriente Médio e Japão. Os clubes ainda são reféns de mal-negociados direitos de transmissão e o fato de o Campeonato Brasileiro e a Taça Libertadores estarem nas mãos de confederações e não serem Ligas independentes diminui a possibilidade de aumento dos rendimentos. Além disso, o “paternalismo” exercido por vários dirigentes de federações e dos clubes brasileiros é conivente com a distribuição dos ingressos (a baixo ou a nenhum custo), e conivente com a violência entre os torcedores. Isso causa o desinteresse nos demais torcedores em frequentarem os estádios: não há conforto e segurança. Mesmo com um ingresso caro, os serviços não estão à altura do preço. Não há respeito pelo torcedor, que, quer-queira-quer-não, é um cliente.

“Quanta oportunidade!” (farm3.static.flickr.com)

Somado a tudo isso, os produtos oficiais são caros e não há alternativas senão comprá-los no mercado informal, grotescamente não-oficiais, mas mais baratos. O combate à pirataria inexiste. Por outro lado, não existe profissionalismo por parte de quem vende e oferece o clube aos torcedores de futebol no Brasil. Se o torcedor verifica resultados no trabalho levado a cabo pelo clube, sem dúvida alguma que ele vai se sentir incentivado em adquirir os artigos oficiais, mesmo que mais caros em relação ao mercado informal. O futebol do Brasil é reconhecido e bem visto pelo mundo, e isso significa mais mercado consumidor. Por que não conquistar estes mercados ao contratar um jogador de lá? Como fez o Manchester United na Coreia do Sul, com o Park. Como faz o Boca Juniors em países como a Colômbia e o Uruguai.

Pensar que clubes como Flamengo e Corinthians têm mais torcida que muitos países do mundo e estão longe de estarem entre os maiores do mundo. Maiores em do mundo em número de torcedores? Desde quando isso significa ser o maior do mundo? Se pelo menos garantisse rendimentos, aí sim. Claro que em um país como o Brasil, que conta com quase 200 milhões de habitantes, é relativamente mais fácil um clube ter mais torcedores do que um clube em um país como a Espanha, com 40 milhões de habitantes. É tudo questão de vontade, iniciativa, planejamento, profissionalismo e visão. De querer servir em vez de “levar vantagem”. E não venha se desculpar pelo câmbio desfavorável!