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Integração

A Associação Europeia de Futebol (UEFA) anunciou na semana passada que a Euro de 2020 não terá um país-sede, mas sim várias cidades-sede espalhadas por aquele continente. A explicação é repartir os ganhos do torneio por todo o território europeu. Sábia ideia.

uefaEventos parecidos são possíveis de ser realizados em apenas algumas regiões do planeta: Europa, Estados Unidos/Canadá, Austrália/Nova Zelândia e Golfo Pérsico. Fatores que contribuem para isso: integração regional em termos políticos, econômicos, sociais e que favorecem o deslocamento. Aos mais céticos, um voo Berlim-Lisboa leva cerca de quatro horas. Auckland-Sydney cerca de duas horas e meia.

Na América do Sul isso não seria possível. Não há integração política, econômica e social. Enquanto Colômbia, Peru e Chile caminham para um futuro próspero, Venezuela, Equador, Bolívia e, às vezes Argentina, retrocedem. O deslocamento também não é nada fácil: no nosso continente temos os Andes, a Amazônia, o altiplano, o calor tropical e o frio polar. A língua não chega a ser uma barreira. Na Europa poderia ser, mas as políticas para o turismo são excelentes. São estes os mesmos fatores que também fazem com que a decisão da Libertadores não seja jogada em um campo neutro, como a Liga dos Campeões da UEFA faz na Europa.

O rúgbi também faz isso. O mundial de 1991 teve jogos na Ilha da Irlanda, no Reino Unido e na França. O de 2007 contou com partidas, além da França, no Reino Unido.

Assim como no esporte, só mesmo a integração para que o bolo seja dividido justamente.

Timón

A conquista do principal torneio de clubes do continente tem levado o Corinthians a expandir as suas fronteiras econômicas, para além das futebolísticas. As contratações do argentino Martínez e do peruano Guerrero não sugerem somente potencializar o plantel, mas também a marca do clube.

O peruano vem do alemão Hamburgo, o que pode trazer a audiência dos seus fãs do país vizinho. O mesmo caso pode acontecer com Martínez. Ao chamar a atenção para o público estrangeiro não apenas significa que mais camisas serão vendidas no exterior. No entanto haverá uma maior demanda de consumo pelo futebol brasileiro, fazendo com que emissoras de televisão de diversos países se interessem em transmitir o nosso campeonato nacional. E, para isso, se paga uma boa quantia de dinheiro.

É pena que o Brasil e seus clubes estejam fazendo isso só agora, mas bom que faça, em uma altura em que o Campeonato Brasileiro foi considerado, pela IFFHS (Federação Internacional de Estatísticas de Futebol) o 3º torneio mais competitivo do mundo. O Corinthians, pela BDO, a marca esportiva mais valiosa do país. O futebol e clubes argentinos fazem isso há algum tempo. Para se ter uma ideia, nós aqui ‘consumimos’ a II Divisão deles. Nomes como ‘Desamparados’, ‘Defensa y Justicia’ e ‘Almirante Brown’ são cada vez mais comuns entre aqueles que seguem o futebol pelo mundo.

Num momento em que já se passou da hora de encarar o esporte como um produto, internacionalizá-lo tornou-se mais que uma obrigação em um mercado global. Os corinthianos não fazem isso sozinhos: Santos, com Fucile e Internacional, com D’Alessandro e Forlán, são grandes exemplos. Quem ganha é o espetáculo e, sobretudo, os consumidores (também conhecidos como torcedores) que pagam por ele.

Furiosas

Muitos hoje falam que o futebol espanhol (futebol europeu) está à frente de todos os outros, em comparação com o sul-americano. O esporte espanhol (europeu) em geral está, em contraste com a acomodação de outros países e suas entidades de administração esportiva.

O que faz o esporte da Espanha estar assim à frente? Trabalho. Saber que dinheiro não nasce em árvore e investimentos na formação. E não apenas no futebol. Exemplos disso acontecem no handebol, no basquete, no rúgbi e no vôlei. Contem quantos pilotos de lá estão nas principais categorias do automobilismo mundial. Na motovelocidade é “Espanha x Resto do Mundo”. Investimentos em ciência. Esporte é quantificável e é possível o controle com o que se quantifica. Logo, você pode gerenciar e transformar isso em conhecimento. Uma vez transformado isso em conhecimento, mais capaz você se torna em formar pessoas capazes de lidar com esse gerenciamento. Isso, a prazo, traduz-se em resultados. São inúmeras as instituições de ensino superior na Espanha que trabalham com o alto-rendimento esportivo. O RCF Zaragoza dá bolsa de estudos na área.

O Brasil já foi o país do futebol. O Brasil se valeu muito pelo individualismo de seus atletas. Não é preciso ser um mago dos estudos futebolísticos para perceber que o jogo está hoje muito mais coletivo que individual. Apenas talento não ganha jogo. A própria palavra reflete isso: “tá-lento”. Assim como um economista Prêmio Nobel afirmou um dia, que o crescimento de um País dá-se com investimento em pesquisa e tecnologia. E tecnologia contribui para ganhar jogo. E nada resiste ao trabalho.

Foto: seleção espanhola de rúgbi, patrocinada pela empresa ferroviária da Espanha

Batismo de Fogo

A Argentina disputará a partir deste ano o ‘3 Nações’, tradicional torneio internacional de rúgbi no Hemisfério Sul que reunia a Austrália, a Nova Zelândia e a África do Sul. Obviamente que a entrada dos argentinos fez com que o nome da competição deixasse de ser esse.

Além disso, muita coisa vai mudar também. Os jogos em território argentino vão gerar muitos rendimentos, não apenas com os ingressos, mas já chamam a atenção de todo um continente aflito por grandes jogos de rúgbi. No Brasil, a procura por pacotes já é imensa e também é intensa entre chilenos, uruguaios, paraguaios e demais nacionalidades. Sinal de hotéis ocupados, mais táxis com passageiros, mais restaurantes para atender a todos estes turistas, mais carregadores de bagagens, mais gorjetas, mais pessoas sendo contratadas para atenderem demandas cada vez maiores dos turistas/torcedores/consumidores/clientes. É previsto que a entrada da Argentina neste torneio trará lucro da ordem de 39 milhões de dólares.

Dentro de campo, não há dúvidas de que a Argentina tem tudo para desempenhar um excelente papel frente aos Springboks (África do Sul), Wallabies (Austrália) e All Blacks (Nova Zelândia). Fora de campo, um Batismo de Fogo para um País que quer organizar o Mundial de 2023 ou o de 2027.

Homeless

Ponteiros durante a fase de pontos corridos da série A2 do campeonato paulista de futebol, as empresas-times Audax (Grupo Pão de Açúcar) e Red Bull classificaram-se para o octogonal final e correm o seriíssimo risco de não se apurarem para a série A1, a principal de São Paulo.

Fator influenciador neste desempenho inferior da fase final é o fator casa. São clubes sem torcida. Torcida pula, salta, vibra. Colore. Preenche. Canta. E o canto é capaz de produzir, em quem canta e em quem ouve o canto, hormônios que contribuem para o aumento da auto-estima. Confere a um grupo o sentido de pertencimento.

Como dizia Eduardo Galeano, “jogar sem torcida é dançar sem música”.

Sem Fim

A morte de dois torcedores em decorrência das brigas entre torcidas em São Paulo no último fim-de-semana trouxe à tona novamente a discussão sobre a atuação das torcidas organizadas, a violência e da atuação do poder público.

Dizem que a polícia devia fazer isso ou aquilo e que o Governo devia ter atuado de uma determinada maneira, com o objetivo de eliminar esse tipo de violência no esporte, especificamente o futebol. Àqueles que acreditam nisso, lamento dizer: essa violência não vai terminar. Continuará por existir. Se alguns torcedores forem conduzidos à clandestinidade, isso pode ser pior: grupos de torcedores poderão, com o tempo, a cada dia parecerem-se mais com seitas, estabelecendo-lhes a condição de uma quadrilha e que, em um caso extremo, a constituição de um ‘estado paralelo’.

Dentro dos estádios a violência é sim capaz de ser reduzida. Novas políticas de aquisição de ingressos para os jogos – como, por exemplo, dar prioridade aos sócios ou aumentar o preço dos bilhetes – e atuação policial preventiva podem preservar o esporte. Imaginar que as brigas de torcedores, longe dos recintos de jogos, pode terminar, é inocência. É portanto preciso fazer com que estes enfrentamentos não envolvam inocentes. Para isso sim, é preciso da intervenção policial.

Série do Discovery, “Football Factories”, sobre as torcidas na Sérvia e na Croácia

É ruim pensar assim, mas necessário para encarar esse problema da violência em decorrência do esporte, de frente, para preservar o torcedor comum, aquele que realmente consome o esporte, sobretudo o futebol.

 

Renda Extra

Finalmente deram um passo a fim de internacionalizarem o esporte brasileiro. Essa manobra envolve o futebol. Foi sugerida para 2012 uma pausa no campeonato nacional para os clubes poderem fazer digressões ao estrangeiro e arrumar uma renda extra com as partidas através da bilheteria e publicidade. Esse exemplo é bastante seguido pelos clubes europeus, que costumam viajar para a Ásia e a América do Norte.

Nos meses de Julho e Agosto de 2011 o Manchester United realizou 5 amistosos nos EUA. Cada jogo rendeu aproximadamente R$3,6 milhões.  O tour realizado pelo Real Madrid no mesmo período atraiu quase R$20 milhões à instituição. O Barcelona acumulou R$7 milhões em duas partidas na América do Norte. Existem tipos diferentes de digressão. O primeiro tipo é de cunho exclusivamente comercial, sem levar em conta uma comunidade específica, característica do segundo tipo. Casos desse segundo tipo incluem o Benfica – que faz muitos jogos em Boston e Toronto, onde há expressivas comunidades portuguesas – e o Chivas na Califórnia e Sudoeste dos EUA, lugares onde mexicanos e descendentes são numerosos.

É portanto isso que querem fazer com o futebol no Brasil. Excelente proposta. No entanto, são pouquíssimos clubes/marcas com potencial de retorno no exterior. Por exemplo: o Coritiba não tem a mesma expressão que possui o Flamengo. Entretanto, se o Coritiba souber trabalhar sua imagem no exterior (especificamente no Japão) ao se vincular com o ex-jogador japonês Kazu (que atuou no clube paranaense nos anos 80), a marca Coritiba pode se tornar mais forte naquele país.

Diferente do Comercial, de Ribeirão Preto, que excursionou ao Leste Europeu no meio deste ano. Eles certamente não foram lá para divulgar a marca, afinal, o público romeno devia desconhecer o clube antes do(s) amistoso(s). Só que esse posicionamento da marca naquele mercado – o que realmente aconteceu – foi consequência da excursão. O objetivo principal da digressão comercialina foi a venda de jogadores. Atualmente, clubes com dinheiro e interesse em comprar jogadores brasileiros de menor expressão, no entanto altamente competitivos para as ligas locais, estão no leste europeu.

É hora de conquistar novos mercados. Novos mercados, mais rendimentos, mais contributo para a profissionalização da gestão do esporte no Brasil.

Novos Mercados

A “Major League Soccer”  (MLS) já é liga esportiva consolidada nos Estados Unidos. Recentemente obteve maior projeção internacional com a ida de grandes ídolos do futebol mundial, como Henry (NY Red Bulls) e Beckham (LA Galaxy). Obviamente eles, principalmente o inglês, chamaram a atenção do mundo para o “soccer”. São grandes atletas, referências, e a mídia acompanha a trajetória deles.

Este é o jeito de trabalho de Don Garber, antigo executivo da NFL (Liga de Futebol Americano) que fora contratado pela MLS justamente para fazê-la crescer. Em uma década e meia, a liga acumulou muitos prejuízos. Com a chegada de Garber, Beckham, dentre outros (Keane, Rafa Márquez, Blanco), o lucro. Para que isso acontecesse, abriram-se exceções no pagamento de salários (há um teto salarial nas ligas esportivas profissionais norte-americanas), o que permitiu a vinda de atletas como os citados.

Mais do que nunca, a MLS é prova de que a conquista de novos mercados é feita através de grandes referências do esporte. Isso levou a maior interesse mundial pelos jogos desta liga. Mais interesse significa mais venda dos direitos de transmissão. Por aqui, o caminho pode ser o mesmo. Atrair de volta grandes futebolistas que atuavam pela Europa, Japão e Oriente Médio, poderá tornar o Campeonato Brasileiro de futebol mais internacional. O voleibol já fez isso. Em meados dos anos 90 a vinda dos grandes jogadores, campeões Olímpicos de 1992 culminou na criação da SuperLiga, hoje referência mundial.

É mais do que hora de conquistar novos mercados e tornar o esporte profissional brasileiro mais internacional.

“Boom”

Uma das metas de governo do recém-eleito presidente da Guatemala, Otto Pérez, é levar o país para uma Copa do Mundo de futebol. Em termos de política e projeção internacional, justifica-se a meta. Até mesmo o período do mundial FIFA pode significar um aumento temporário do nível de emprego, haja vista a confecção de produtos com as cores nacionais da Guatemala e da quantidade de pessoas que serão necessárias em bares e restaurantes para servir à mesa. No entanto, tudo isso é muito temporário e, a longo prazo, tal meta não traria grandes resultados.

Longo prazo. Este termo é fundamental. Pela crise econômica da Europa se entende o “boom” dos negócios no futebol brasileiro. Repito, é um “boom”. Como todo “boom”, a poeira abaixa depois de um tempo. Por isso é preciso ter cuidado e para um crescimento ser sólido e constante, é necessário, planejamento. O Santos argumentou bem a manutenção de Neymar no plantel: o crescimento do número de torcedores. Número de torcedores = consumidores. Flamengo e Corinthians querem ser os maiores do mundo. E pode. As equipes europeias, cujas projeções são muito maiores, não tem o mesmo número de torcedores que eles. Para a projeção ser maior, basta tratar o esporte com mais profissionalismo. Já é bem profissional “dentro de campo”, setor em que os resultados saltam mais aos olhos. É preciso ser profissional também nos bastidores.
No Brasil tal fenômeno não é exclusivo do futebol. Outras modalidades passam pelo mesmo processo. Os Jogos Olímpicos constituem um fator para. Como todo “boom”, a poeira abaixa e um cenário de crise poderá vir. Quando – e se – vier, é preciso estar preparado para não se arrepender do que não foi feito.

O bom momento – não é o melhor – do esporte no Brasil não se explica somente pela crise em outros lugares do mundo. É sobretudo um aviso de uma chance para mudarmos em definitivo os rumos do esporte no país e projetá-lo internacionalmente pelos bons exemplos.

À Mexicana #2

Loja do América à saída do Azteca

Loja do América à saída do Azteca

É impressionante o profissionalismo no esporte mexicano, sobretudo no futebol. Eu tinha uma visão equivocada, de que tudo era uma influência dos EUA, em função proximidade entre os dois países. Tive a oportunidade de conhecer algumas instituições e algumas pessoas ligadas ao esporte no País e elas me mostraram o contrário.

Os clubes são clubes, como no Brasil. Existem algumas franquias, semelhantes ao atual Americana e ao Boa Esporte. Mesmo os clubes, o objetivo é o lucro. Por isso eles trabalham muito bem suas marcas, e transformam-nas em produtos. O América é propriedade do dono da Televisa (canal de TV). O dono da Televisa também tem o Estádio Azteca. Por ter recebido 2 mundiais FIFA e os dois melhores jogadores do mundo terem sido campeões lá (Pelé e Maradona), o lugar se torna referência e essa história faz dele, um produto. Fatores que transformam uma organização esportiva em produto: história, relacionamento com o torcedor, valores e, no caso de um estádio, o aspecto visual.

Túnel de acesso ao campo pelos jogadores do América

Túnel de acesso ao campo pelos jogadores do América

A fim de maiores rendimentos e profissionalismo, a Federação Mexicana não impede que o dono de um meio de comunicação também tenha um clube. Nesses casos, os negócios são bem distintos: clube é clube e canal de TV é canal de TV. Cada um deles tem o seu público-alvo. A TV, por exemplo, não pode ignorar os 35 milhões de torcedores do Chivas Guadalajara, clube rival ao América. Caso contrário, perde uma grande audiência, boa fatia do mercado mexicano.

Entretanto nem todos os clubes possuem donos com grande capacidade de investimento. Nesses casos, é permitido à instituição mudar de cidade ou mesmo encerrar as atividades. Acontece no México uma mistura de um sistema europeu e sul-americano, com o das franquias norte-americanas, juntamente com seu profissionalismo. É bom ver que as instituições esportivas aqui no México (e repito, sobretudo no futebol) trabalham muito com estagiários e possuem plano de carreira para eles.

Exemplo desse profissionalismo no futebol mexicano é o Pachuca. No início dos anos 2000, era apenas um clube pequeno que subia de divisão. Quando isso aconteceu, os dirigentes foram procurados por um canal de TV que oferecia uma pequena quantia de dinheiro para transmitir suas partidas. O presidente do clube, sabendo que não podia se dar ao luxo de barganhar por mais, aceitou. Os jogos do Pachuca seriam transmitidos pela TV e, com isso, o clube podia buscar mais patrocínios, uma vez que haveria maior exposição das suas marcas na televisão. Com isso, aumentaram os patrocínios e os rendimentos do clube, que pôde investir no plantel e torná-lo mais competitivo. Feito isso, os resultados no campo melhoraram, chamando mais atenção da torcida, da mídia e de mais empresas interessadas em investir no clube. Aliado ao profissionalismo de seu quadro organizacional, a instituição criou uma universidade de ciências do esporte e futebol, que abastece o mercado esportivo mexicano.

Um exemplo de País cuja sociedade é muito semelhante com a nossa e a realidade, não muito distinta.

Pena que isso, no México, acontece apenas no futebol e em menor intensidade, no beisebol, mais popular no norte, próximo à fronteira com os EUA. A diferença principal é que os clubes têm proprietários, que estão interessados, além do resultado desportivo, no resultado financeiro. Esses proprietários são movidos pela paixão, certamente, mas mais ainda pelo bolso.

No Brasil, vocês todos sabem, não é bem assim.